quarta-feira, 24 de outubro de 2012


I GIBICON - CURITIBA -  PARANÁ



SONIA LUYTEN:

PROGRAMAÇÃO:

LANÇAMENTO DO LIVRO:

SONIA LUYTEN - Mangá o poder dos quadrinhos japoneses (3a edição)
Prefácio de Mauricio de Sousa. Obra referência sobre o universo das histórias em quadrinhos japoneses, o mangá.
 
PALESTRAS/DEBATES
 
Dia 25 de outubro
 
Paço - Sala de Aula 2º Andar
11h - Palestra: Carreira de Sonia Luyten
 
 
Dia 25 de outubroPaço da Liberdade Sala de Aula 2 Andar

16h - Debate: Mulheres nos Quadrinhos- Ana Luiza Khoeler - Pryscila Vieira - mediação Sonia Luyten


Dia 26 de outubro

Paço Sala de Aula 3 Andar
13h30 - Debate Novos Rumos da HQ nacional - Eduardo Medeiros, Mário César, Galvão, Vitor Cafaggi - mediação: Sonia Luyten

SIHG - I SALÃO INTERNACIONAL DE HUMOR GRÁFICO

O marco histórico do Humor Gráfico e Histórias em Quadrinhos

SIHG - Seminário Internacional de Humor Gráfico em Pernambuco.

Tema  MULHERES
Juri composto por mulheres :

Sonia Luyten - São Paulo

Clara Gomes - Rio de Janeiro

Chiquinha - Rio Grande do Sul

Prycila Vieira - Paraná

Nani Mosquera - Colômbia residindo em Madri

Cristina Sampaio - Portugal 

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A exposição está em cartaz desde o dia 21 de outubro de 2012 no Parque Dona Lindu, em Recife.

A mostra é de nível internacional.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

14 ENTREVISTA | SONIA BIBE LUYTEN E O PODER DO MANGÁ

setembro 20th, 20127:30 am @ Marilia Kubota
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Sonia Bibe Luyten: a primeira a estudar mangá. Foto: Divulgação blogue Sonia Luyten
Em 2012, Sonia Bibe Luyten completa 40 anos de docência em História em Quadrinhos e Cultura Pop Japonesa. Pesquisadora pioneira do mangá na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, é autora dos livros ”Mangá, o Poder dos Quadrinhos” e “Cultura Pop Japonesa”, além de um dos fundadores da Associação Brasileira dos Amigos do Mangá, que viria a se tornar a Associação Brasileira de Desenhistas de Mangá e Ilustração - ABRADEMI. A pesquisadora ajudou e continua ajudando a desbaratar muitos mitos a respeito do mangá, como o de que não era tema para uma pesquisa acadêmica. Contrariando seus opositores, Sonia segue instigando polêmicas.
Por Marilia Kubota
Revista Quadreca, nos anos 70:pioneirismo
Você foi a pioneira no estudo de mangá no Brasil e no mundo, com a publicação de um artigo na extinta revista Quadreca. Como foi o desbravamento desse campo ?
As HQs, no mundo todo, e o Brasil não é exceção, estão ligadas ao desenvolvimento econômico do país. No Brasil não há muita leitura de livro porque ainda não há condições plenas para pessoas de renda baixa ter acesso à escola, comprar livros . O livro é caro, R$50, R$ 60, até para a classe média. Com o boom econômico do Japão, nos anos 70, os jornais passam a ter edições de 10 milhões de exemplares diários e os mangás, igualmente, 1 milhão / semana. Dinheiro chamando dinheiro. Me chamou atenção a estatística, além de gostar também. Em Sâo Paulo havia a possibilidade de a gente ter acesso aos mangás japoneses, onde os japoneses os compravam, no bairro da Liberdade. Já existiam pesquisadores de HQ, mas mangá, especificamente, não.
Você teve alguma atração especial pelo estudo do mangá ?
No caso, a cultura japonesa me era muito familiar, eu gostava. Quando juntei o meu campo de estudos, que é Quadrinhos, com a produção de mangá no Japão , eu queria saber por que a tiragem era tão alta, por que a editoração era feita daquele modo. Comecei mais com perguntas pra poder pesquisar. Meu primeiro contato com o mangá foi na Liberdade, onde havia distribuidoras de revistas de mangá. Daí comecei a estudar como editavam, a categorização voltada para a faixa etária, sexo, etc. Foi a partir dessas perguntas é que eu comecei a pesquisar.

"One piece", mangá japonês.

Porque você acha que antes nem um pesquisador se aventurou a estudar o mangá, no Brasil e no mundo ?
Por que ninguém se interessava em estudar algo que não era arte erudita. Na USP só se estudava artes como ikebana, shado, shodo, literatura, não arte pop. E o espanto era a pesquisa feita por não-descendente. Posso dizer que a partir do livro Mangá – o poder dos quadrinhos, que eu escrevi, nos anos 70, a visão sobre o tema mudou. Esse livro foi minha tese de doutorado, ramificou –se como ponta de lançar para muitos outros livros e estudos acadêmicos.
Um dos tópicos mais críticos de seu livro é quando você fala sobre a função social do mangá no Japão e no Brasil …
A função do mangá no Japão é de extravasamento. No Japão, por exemplo, a palavra otaku, que no Brasil está ligada exclusivamente aos animes, na verdade significa fã. No Japão, o mangá anime serve como válvula de escape para as fantasias dos fãs de todas as faixas etárias, principalmente adolescentes e jovens adultos. Criança não, porque até os 7 anos, criança no Japão pode fazer o que quer. A partir de 8, 9 anos, entra na adolescência e o mangá se torna uma válvula de escape de fantasia para fugir do rigor dos estudos. No Brasil, o mangá também é usado como entretenimento e leva à fantasia, mas esse não é o objetivo maior. Aqui, o fã de anime é considerado imaturo, sofrendo preconceito. No Brasil a fantasia pelo anime não é considerada válvula de escape à repressão social, porque existe o futebol, o carnaval, etc. E em geral o aficcionado de anime mangá não vai pra um estádio de futebol.
Com Robert Crumb, no HQMix. Foto: divulgação.
Então no Japão, o mangá exerce a função de controlar socialmente a população ?
Na minha opinião, é uma maneira de manter o status quo. Enquanto você pode dominar um povo onde se pode fantasiar e não tornar realidade – (no Brasil, através do futebol, no Japão, através do mangá anime , tudo estará bem, se na vida real todos seguem o mesmo caminho. No Brasil, se o Corinthians ganhar, se xinga, se bate, etc., mas segunda-feira todo mundo vai trabalhar. Dessa forma se alivia a tensão e existe um controle político sobre a massa. Em “Mangá, o poder dos quadrinhos”, eu falo que o mangá é o ópio do japonês. Por isso, no Japão ninguém queria publicar, em 1991, época em que foi lançado.Hoje talvez revissem essa posição. É muito difícil se olhar no espelho. Se alguém falasse que eu sou assim, assado, fala isso e aquilo, eu não ia gostar dessa imagem, ia quebrá-la. Ou aceitar. Com o país é a mesma coisa. Estudando anime e manga do Japão, eu pesquiso sobre o imaginário de uma nação. Ninguém gosta de ver essa reflexão, por não ter poder, não ter controle. O que povo fantasia é a sua carência, ou o que odeia e não pode explorar. Vou te dar um exemplo, no Japão. Não trabalho com mangá erótico nem pornográfico, mas vi e li. Por que na fantasia desses mangás tem sempre a figura da colegial ? Porque o homem adulto quer que a escola vá para o espaço, é o que não gosta.
Maurício de Souza recebe o Troféu HQMIX. Foto: divulgação.
E qual o lado positivo do mangá anime ?
No momento em que o lazer que o mangá anime proporciona e os fãs absorvem, ele entra em contato com outra cultura, ele já vai se modificar na recepção. O tradutor é muito importante, se não ele vai matar a história. Por exemplo, o gesto de apontar o nariz é eu (watashi). No Brasil, aprendemos uma serei de gestualidades graças aos anime , palavras, expressões que o fã de mangá anime traz para a cultura brasileira e por outro lado, muitos mangás anime são influenciados pela cultura ocidental . Hayao Miyazaki, por exemplo, se inspirou em várias fábulas do mundo inteiro para compor seus animes.
Você chegou a estudar a história do mangá no Paraná ?
O Paraná teve um significado muito grande no pioneirismo do mangá, por causa da Grafipar, que reuniu quadrinistas, como o Claudio Seto, o Paulo Fukuda, etc. Mas a Grafipar nos anos 70 passou desapercebida e os artistas mangaká produziram muito, sem que a crítica tenha lhes dado a devida importância. Esses artistas foram influenciados pela leitura dos mangás japoneses , eram nativos na língua japonesa, elaborando uma HQ no estilo mangá, com temas da cultura japonesa, compondo o mangá brasileira. Depois dos anos 60, 70, há um vácuo muito grande. Daí vem uma nova leva de desenhistas influenciados maciçamente pelo anime e mangá, como o Fábio Yabu, um bom exemplo que deu certo a partir da internet, com os Combo Rangers e depois para as sereias.
Qual a diferença entre os mangás produzidos nessa época e os contemporâneos ?Hoje a moçada mostra os quadrinhos para mim e perguntam o que eu acho. O desenho é perfeito, ficam treinando, copiam o traço é sempre bom. Falta enredo. E sem enredo a HQ não se sustenta. Então os mangaká hoje precisam aprender a fazer enredos. Precisa ter uma história que precisa ter um peso que sustente a curiosidade da leitura. Isso acontece porque o jovem está mais voltado para o desenho e não para o enredo. Ele não lê muito. Hoje existe crise de roteiro. Pra fazer um roteiro, o escritor precisa estar antenado com o mundo. Precisa ter um conhecimento geral básico sobre a humanidade, não só sobre desenho. É duro fazer roteiro, é como escrever um romance. Você precisa ter peso, é um dom. Acho as histórias um pouco fracas.
Que lembrança você tem de Seto e Minami Keizi ?
Seto recebendo o Troféu HQMix de Serginho Grossman. Ao fundo: Sonia. Foto: Cecília Laszkiewicz.
No ano do centenário da imigração japonesa, pudemos homenagear o Minami Keizi e o Seto com o troféu HQMIx. O personagem Samurai, criado por Seto, foi homenageado.Nesse encontro, na entrega do troféu, reunimos todos os mangáká. Fiquei feliz porque o Seto recebeu essa homenagem um pouco antes de morrer, o que me honra muito.
Você pode contar o que foi a Abrademi, da qual você foi uma das fundadoras ?
A Associação Brasileira de Desenhistas de Mangá e Ilustração nasceu de um grupo de estudos de mangá da ECA. Aí esse grupo, comigo, fazia pesquisas sobre mangá. Em 83/84, fizeram uma exposição. O objetivo da Abrademi era a difusão da cultura japonesa através do mangá, sem fins lucrativos. Mandavam boletim pro Brasil todo, faziam revistas. Eles foram, junto comigo, os pioneiros a abrir o mangá para o meio universitário.Hoje, em lugar dessas associações existem os animencontros, que tem objetivos mais comerciais.
Personagem Doraemon, um dos mais populares.
Doraemon, criado por Fujiko Fujio, desde 2008 “anime embaixador” do Japão. Foto: divulgação.
E agora as pesquisas focam os animencontros?
O anime tem muito mais impacto na população jovem do Brasil do que o mangá, até por uma questão de preço. O mangá traduzido é preciso comprar, da editora JBC, Conrad, etc. O anime se faz download. A internet facilitou a exposição dos jovens a mais animes. O anime tem uma pentração maior do que o mangá.
Os animencontros são vistos com eventos estranhos pelo senso comum. Mas como pesquisadora você procurar compreender a mentalidade dos fás de anime ?
Muitas vezes, na casa, um menino gosta de anime. Se ele está sozinho na casa, de repente na internet ele acha no RJ ou em Sidney, na Austrália alguém que gosta de anime, eles se juntam em comunidades onde não se sentem sozinhos, sem o estranhamento dos outros e formam uma comunidade. Com isso, conversam sobre os seus heróis, episódios, etc. e se sentem em segurança do pertencimento de um grupo. Tem até mais força no input, recebendo deles próprios mais força pra poder continuar como fãs. Um fã sozinho fica perdido, porque sofre muito preconceito, principalmente no Brasil, onde se diz que o desenho animado , história em quadrinhos é coisa de criança. Os fás de anime são tachados de infantis, imaturos, o que não é verdade. No Japão, o desenho animado não é só para crianças.
Por que você usa a expressão “lixo cultural” para designar a cultura pop ?
Porque cultura pop ainda é considerada lixo cultural. Sempre quando me apresento como especialista em HQ, me perguntam: não podia ser algo mais elevado ? Quando eu falo em eventos, a minha pesquisa é considerada “diversão”. Mas eu acho que o quadrinho é poderoso, é educativo, a criança quebra muito a cabeça pra pode rler uma imagem complexa, pra entender todos os signos da história. Mesmo sem saber ler, ela decodifica os signos – coração quer dizer amor, gotinhas querem dizer suor, etc. Seguindo um mangá, a criança segue uma história em linguagem descontinua (quadrinhos) numa linguagem contínua (narrativa). E o mais importante do mangá é o que está entre um quadrinho e outro. É aí que a criança desenvolve a imaginação. As pessoas não sabem ler imagens.
E a gente vive numa era de imagens.
Há tanta exposição de imagens que as pessoas não lêem mais. Não presta atenção, o uso das cores nas imagens, os detalhes, etc. O mangá anime aprofunda a cultura visual. A melhor maneira de reforçar a cultura visual é fazer um desenho, criar um personagem, uma história. Assim elas se tornam heroínas. Por isso eu falo para os pais e professores não usar o mangá anime como inimigo, mas como aliado.Se proíbem é porque não conhecem a linguagem e o poder dos quadrinhos. Não existe coisa melhor para uma criança do que ela entrar no mundo da fantasia. Pq a criança sabe diferenciar o que é realidade e fantasia. N é todo mundo que vai por uma capa de superman e sair na janela voando. Se uma criança fizer isso, ela é doente, não os quadrinhos. Não é porque joga game, vê desenho animado, lê quadrinhos que a criança se torna violenta ou anormal.
Marilia Kubota é editora do JORNAL MEMAI, mestre em estudos literários (UFPR) e organizadora do livro “Retratos Japoneses no Brasil – Literatura Mestiça” (2010).
 
Memai | Jornal de Letras e Artes Japonesas

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Contato para palestras

Contato para palestras


Tenho ministrado palestras em todo o pais e no exterior. Deixo meu e-mail para contato:
sonialuyten@hotmail.com e soniabibeluyten@yahoo.com


Currently I have given lectures and conferences throughout Brazil and abroad. If you are interested, I leave my contacts:
sonialuyten@hotmail.com e soniabibeluyten@yahoo.com
 
 

domingo, 5 de agosto de 2012


1972-2012 : Comemorando 40 anos de docência
                    na arte das  Histórias em Quadrinhos

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Piauí agora é padrão na arte de fazer evento de Quadrinhos

 12a. Feira HQ e 4o Seminário de Quadrinhos Piauí

Este evento que ocorreu entre os dias 26 e 29 de julho de 2012 virou padrão em matéria de organização e recepção de seus convidados.  Com um  elenco de bons  pesquisadores, desenhistas, roteiristas, dublador e uma feira de HQ, a mostra realizou-se de forma profissional e calorosa ao mesmo tempo.

Além disso, a cidade de Teresina (a qual já havia ido duas vezes por ocasião do Salão de Humor) está irreconhecível. Bem cuidada, avenidas largas, um mirante espetacular e na Avenida Nossa Senhora de Fátima - que corta a cidade - há restaurantes  de elevado nível por metro quadrado colocando-a ao nível de grandes cidades brasileiras.


                                         

sexta-feira, 1 de junho de 2012


Palestra de Sonia Luyten sobre: "Imagens do cotidiano no manga".    Confira a programação:

 dia 13 de junho (quarta-feira) de 2012 às 16h00
IV Seminário de Comunicação e Cultural Visual: Imagem e Cidade
Promovido pelo Grupo de Pesquisa Comunicação e Cultura Visual do CNPq
Mestrado em Comunicação – Faculdade Cásper Líbero

Coordenação: Profa. Dulcília Buitoni

O “IV Seminário de Comunicação e Cultural Visual: Imagem e Cidade” apresentará discussões, uma mesa redonda e relatos de pesquisa sobre imagem, com pesquisadores da Faculdade Cásper Líbero e pesquisadores de outras instituições.
Programação:

Local: Faculdade Cásper Líbero
Av. Paulista, 900
Sala Aloísio Biondi, 5º andar


12 de junho, terça-feira

14h – Abertura: Profa. Dulcília Buitoni

14h30 – Relatos de Pesquisa: “A representação das cidades no BigPicture nos desastres ambientais do Haiti (2010) e Japão (2011)” – Anna Letícia Pereira de Carvalho (Mestranda em Comunicação Faculdade Cásper Líbero)

Participação de fotógrafo convidado

15h30 – Intervalo

16h – Relatos de Pesquisa: “Relações de gênero: final de semana em Santa Tereza, RJ” – Vera Racy (Profa. de Fotojornalismo PUC-SP) e Maria Helena Franco

16h30 – Relato de Pesquisa: “Canteiro de obras: Walter Benjamim e uma luz sobre a Nova Luz” – Eric de Carvalho (Mestre em Comunicação Faculdade Cásper Líbero e doutorando ECA-USP)

17h – Apresentação de Pesquisador do Grupo

17h30 – Relatos de Pesquisa: “Retrato delas com suas fotos” – Tika Tirilli e Monica Sucupira

18h30 – Diálogo sobre os temas do dia

13 de junho, quarta-feira

14h – Mesa-redonda com professores do Grupo de Pesquisa Comunicação e Cultura Visual – Coordenação: Profa. Dulcília Buitoni e Profa. Simonetta Persichetti

15h – Relato de Pesquisa: “O manto de Arthur Bispo do Rosário” – Rodrigo Antunes Moraes

(Mestrando em Comunicação Faculdade Cásper Líbero)

15h30 – Intervalo

16h – Relato de Pesquisa: “Imagens do cotidiano no Mangá” Sonia Luyten (Doutora em Comunicação ECA-USP e pesquisadora de quadrinhos)

16h30 – Apresentação: “Um olhar sobre a revista O Cruzeiro” – Helouise Lima Costa (Mestre em Comunicação ECA-USP, Doutora FAU-USP, professora da Pós-graduação do Museu de Arte Contemporânea da USP e curadora)

17h30 – Apresentação: “Convivência das mídias no cenário da cidade” – Carlos Costa (Mestre e Doutor em Comunicação ECA-USP, professor da Faculdade Cásper Líbero)

18h – Relato de Pesquisa: “A construção de metodologia para a leitura de imagem” – José Geraldo de Oliveira (Mestrando em Comunicação Faculdade Cásper Líbero)

18h30 – Análise das pesquisas e discussões apresentadas

19h – Encerramento do Seminário






sábado, 12 de maio de 2012

Congresso Comemorativo dos 20 anos do Curso de Japonês da UNESP - Assis

Palestra de Sonia Luyten no Congresso comemorativo dos 20 anos do Curso de japonês da UNESP - campo de Assis sobre Cultura Pop japonesa .

sábado, 25 de fevereiro de 2012




OFICINA DE HISTÓRIAS EM QUADRINHOS
NA REGIÃO DO CARIRI - CEARÁ

A Fundação Casa Grande foi sede de uma oficina de Histórias em Quadrinhos de 6 a 11 de fevereiro de 2012 promovida pelo Departamento de Educação do Curso de Pedagogia da URCA (Universidade Regional do Cariri) através da Prodocência-CAPES.Coordenado pela Profa. Dra. Sonia Luyten

0 objetivo da oficina foi criar revistas de Histórias em Quadrinhos que passarão a compor os materiais e recursos didáticos do Laboratório de pesquisas e práticas pedagógicas.

Para tal, o grupo composto pelos professores Isabelle de Luna Alencar Noronha, George Pimentel Fernandes, Verônica Lima Carneiro, Marcos Aurélio Moreira Franco, Maria Neuma Clemente e Cícera Nunes recebeu, em primeiro lugar, material teórico básico para entender a gramática das Histórias em Quadrinhos e o utilizar para fazer quatro revistas.Contamos com a colaboração preciosa de Momô e Felipe da Fundação Casa Grande para criar os personagens e realizar os desenhos a partir dos roteiros feitos pelos professores.O objetivo principal deste projeto foi focalizar a realidade da região do Cariri com um material didático e lúdico ao mesmo tempo para professores e alunos das escolas locais.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Os quadrinhos na visão acadêmica de aprendizagem



Entrevista com Sonia Luyten na clictv em 31 de janeiro de 2012

http://tvuol.uol.com.br/assistir.htm?video=a-historia-dos-quadrinhos-por-sonia-luyten-04028D9C316EDCA12326&tagIds=380402&orderBy=mais-recentes&edFilter=all&time=all¤tPage=1#assistir.htm?video=os-quadrinhos-na-visao-academica-de-aprendizagem-04028D9C316EDCA12326&tagIds=380402&orderBy=mais-recentes&edFilter=all&time=all¤tPage=1

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O programa Salto para o futuro e HQ como meio de aprendizagem

Este é o link para o programa. Assistam. Vale a pena!

http://tvescola.mec.gov.br/index.php?option=com_zoo&view=item&item_id=9710

HQ na Escola - Salto para o Futuro - Faz um ano, mas ainda válido!

http://tvbrasil.org.br/saltoparaofuturo/entrevista.asp?cod_Entrevista=118

Salto para o Futuro
O Programa


Sônia Luyten

Realizada em: 26/1/2011


Atuação: Pesquisadora com ênfase no uso de quadrinhos na sala de aula. Atualmente é professora titular do Programa de Pós-Graduação da Universidade Presidente Antonio Carlos (UNIPAC), em Juiz de Fora/MG; Presidente do Troféu HQMIX, entidade que faz a premiação dos melhores artistas e acadêmicos na área de Histórias em Quadrinhos e Humor Gráfico.


Obras: LUYTEN, S. M. B. Histórias em Quadrinhos da África: a pujança de um continente. Veredas (Rio de Janeiro), São Paulo, p. 1-10, 2004; Onomatopéia e mimésis no mangá: a estética do som. Revista USP, São Paulo, v. 52, p. 176-188, 2001; O que é Histórias em Quadrinhos. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 1993. v. 1. 92 p; Histórias em Quadrinhos - Leitura crítica. 3. ed. São Paulo: Editora Paulinas, 1989. v. 1. 94 p.

História em Quadrinhos: um recurso de aprendizagem

Salto – Em seu livro "Histórias em quadrinhos: leitura crítica" você ressalta a importância de valorizar os personagens e os desenhistas brasileiros. Atualmente, como você analisa a produção nacional de quadrinhos?
Sonia – A produção de quadrinhos brasileiros nunca esteve tão bem, tão rica, tão vasta e boa qualidade. No dia 31 de janeiro nós comemoramos o Dia do Quadrinho Nacional. Isso porque nós temos um "pai", isto é, o primeiro desenhista brasileiro, chamado Angelo Agostini, que no final do século XIX começa uma produção de quadrinhos no Brasil. O Brasil é pioneiro, muito antes dos americanos, nós já produzíamos, aqui no Rio de Janeiro, as imagens de uma história chamada "As aventuras do Nhô-Quim pela corte". Um ítalo-brasileiro se nacionalizou brasileiro, e começa então essa produção no Brasil. Nós temos uma produção vasta, de várias fases, acompanhando a produção mundial, acompanhando os acontecimentos mundiais. O quadrinho está intimamente ligado à história, ao entretenimento, à economia, etc. No Brasil, hoje, nós estamos com uma situação financeira também estável, e isso é muito importante também, pois com maior poder aquisitivo, mais pessoas estão lendo. Eu posso dizer que hoje em dia as pessoas estão tomando conhecimento da importância dos quadrinhos – as próprias editoras também. Hoje nós temos inúmeros títulos em que se fez a transposição de obras literárias, de romances, para quadrinhos. Grandes desenhistas brasileiros estão colocando esses livros na linguagem própria de quadrinhos. É muito difícil colocar em quadrinhos um escritor como Machado de Assis, o desenhista fica com medo de "matar" o autor. Mas a linguagem do quadrinho não pode ser redundante. É muito importante, hoje em dia, se ater a esta linguagem dos quadrinhos. Eles têm uma linguagem própria, não é literatura, não é cinema, nós estamos falando de Histórias em Quadrinhos.

Salto – Outro ponto discutido nesse livro diz respeito à influência dos quadrinhos sobre os meios de comunicação. Como é essa influência e de que forma ela pode ser percebida?
Sonia – Percebemos a presença dos quadrinhos desde os primórdios da humanidade. Se examinarmos as pinturas rupestres, por exemplo, aqui no Brasil, no Piauí, na Serra da Capivara, temos vários exemplos mostrando que de forma didática, na verdade sequencialmente, os seres humanos deixavam registros de como fazer as coisas – caçar, procriar, se alimentar, guerrear. Então, conforme a época, e conforme a evolução da civilização, nós temos esse exemplo da arte sequencial. As pessoas vão usando aquilo que o tempo lhes oferece. Nós temos vários exemplos na história da humanidade, na nossa história.

Salto – Você poderia dar outros exemplos?
Sonia – Por exemplo: no tempo do Império Romano, no Egito Antigo, depois na Idade Média... Tem um exemplo muito emblemático, que é uma tapeçaria de 70 metros, que foi encontrada na cidade de Bayeux, tudo em arte sequencial, narrando a guerra entre a Inglaterra e a França. Isso foi documentado em bordado, havia personagens, e toda forma da náutica, dos barcos, das armas, etc. Um documento precioso. Depois, mais tarde, nós podemos ver, na Idade Média, a xilogravura, a arte em fazer gravações em madeira, isso também foi imagem sequencial. Há quadrinhos em litogravura, que é a imagem na pedra. E depois, com a invenção dos meios de comunicação, nós vamos ver nos jornais, por exemplo, os quadrinhos aparecerem. Aparecem inicialmente com periodicidade semanal, depois diária, e depois pulam para as revistas, os gibis. Então, os próprios donos dos jornais, principalmente os americanos, quando viram que a seção de histórias em quadrinhos vendia o jornal, isso teve um peso muito grande na própria indústria jornalística. Aqui no Brasil também, nós tivemos praticamente uma guerra dos gibis, principalmente entre os editores do Rio de Janeiro e de São Paulo. Cásper Libero com o jornal "A Gazeta", depois veio Roberto Marinho, enfim, isso tudo para mostrar que o quadrinho tem uma importância na própria indústria jornalística. Hoje em dia, por exemplo, nós podemos falar da internet. Na internet há muitos sites, onde os desenhistas já não precisam se utilizar do papel para poder fazer as suas histórias. A internet hoje é o grande meio.

Salto – Vamos falar um pouco sobre o troféu HQMIX, uma premiação voltada para profissionais que trabalham com os quadrinhos. Você é a presidente da comissão organizadora, quais são os critérios utilizados na escolha do prêmio?
Sonia – Esse prêmio tem, mais ou menos, umas 20, 30 categorias. É um prêmio de referência nacional e também internacional. Todo ano é como se fosse o "Oscar" dos quadrinhos. É o "Oscar dos Quadrinhos". A produção de quadrinhos envolve uma indústria imensa, e nós premiamos, por exemplo, a melhor editora, o melhor desenhista, o melhor roteirista, desenhista revelação, revistas, histórias infantis. Enfim, são categorias que vão mostrar, dentro da nossa área, o que está sendo produzido de melhor. Isso é feito, normalmente, nós temos um site, um blog, colocamos todas as produções do ano, e esse ano foi uma coisa imensamente volumosa, e as pessoas vão escolhendo, e nós chegamos ao número 7 – os nomináveis. Os que vão entrar em votação. Este resultado depois entra para a internet, em votação, para um grupo de pessoas especializadas, que são: pesquisadores, professores, desenhistas, profissionais da área, jornalistas também, e em cada categoria se escolhe um representante. Eu introduzi nesse prêmio algo que foi um sonho muito grande, a categoria de teses acadêmicas sobre quadrinhos. Foi um sucesso muito grande, porque ali está o 'filé-mignon' da produção nacional, isto é, os pesquisadores atentos ao que está acontecendo no mundo dos quadrinhos. E o número de teses é grande, aliás, esse ano ganhou uma tese de mestrado da Universidade Estadual de Bauru, que justamente fala sobre o Ensino de Ciências por meio dos quadrinhos. Há muitas teses voltadas para mostrar como o quadrinho está sendo utilizado em sala de aula. Com isto, vemos, neste momento, que estamos tendo uma junção: da universidade por meio da pesquisa, do desenhista e das editoras também. Tudo isso faz com que este prêmio seja realmente uma referência na área. Nesses três anos, agora como presidente, introduzi uma série de coisas novas para aprimorar cada vez mais e para essa votação ser cada vez mais eficiente.

Salto – Você é uma pesquisadora da literatura em quadrinhos, e da influência desse gênero literário na educação. Qual é a importância da presença desta linguagem nas salas de aula e nas bibliotecas?
Sonia – Primeiro, vamos falar um pouquinho sobre a linguagem dos quadrinhos. Eu sempre costumo dizer que "quadrinhos são feitos para pessoas inteligentes". Porque é o seguinte: é preciso ler, e eu falo que a imagem é complexa. É preciso saber ler a imagem. A pessoa que sabe ler quadrinhos desenvolve a inteligência, o entendimento de como é feita esta arte sequencial. Em que sentido eu quero dizer isso? No da linguagem, pois, primeiro, nós temos quadros. Por isso, um dos nomes mais bonitos no mundo para este gênero textual é o nosso: "história em pequenos quadros". Cada país usa uma denominação. Em inglês é Comic Street, que começou numa época em que era mais um estilo cômico; os italianos já usam o balãozinho, o fumetti. Mas o nome que damos em português, eu acho o mais apropriado: histórias em pequenos quadros. Esses quadros são estanques, então, o desenhista está representando momentos de cada ação. Essa é a linguagem dos quadrinhos. É uma linguagem descontínua. O mais importante nas histórias em quadrinhos é o que está entre os dois quadrinhos, o vazio. Por quê? Porque uma criança, ou um adulto, vai ter que, na sua cabeça, imaginar aquela cena que está assim, ficando assim. Isso é um estímulo ao cérebro. O leitor passa da linguagem descontínua – são movimentos parados –, para a linguagem contínua. Então, pessoas desenvolvem sua inteligência, ao conseguir rodar esse filme na cabeça. E também o uso dos sons, das onomatopeias, que fazem parte dessa linguagem, ou seja, os ruídos. Não temos o cinema mudo, temos uma linguagem que tem "blah, slam" etc. Além do mais, assim como fazem os nossos sonoplastas, nós podemos aumentar o volume, do jeito que quisermos. Então, se olharmos a partir desse ponto de vista, é uma linguagem complexa. Passamos da linguagem descontínua para a contínua, o mais importante é o vazio, porque estamos transpondo, estamos usando a nossa cabeça para fazer aquele movimento. Eu fiz uma experiência com crianças brasileiras, com quadrinhos escritos em finlandês. Elas não entendiam nada da língua, mas elas conseguiram, pela imagem, sabendo ler a imagem, e pelas onomatopeias, saber exatamente o que estava acontecendo. Portanto, isso é um aviso, é algo muito importante para que os professores e os pais levem em conta: o bom quadrinho é ótimo para a criança. Assim como tem filmes ruins, livros que não são bons, nós temos quadrinhos também de má qualidade. Nós estamos falando dos bons quadrinhos, dos bons filmes, da boa literatura. Isso é algo que engrandece, tanto a criança, em idade tenra, quanto o adulto. Hoje em dia nós vemos nas escolas, em centros culturais, a introdução de gibitecas. São locais onde as crianças têm livre acesso aos quadrinhos, podem pesquisar, até mesmo os adultos, e os professores podem utilizar isso de várias maneiras. Isso, de qualquer forma, vai ajudar, e quem conhecer bem essa linguagem, vai ter um mundo inteiro ao seu dispor, para utilização.

Salto – Durante algum tempo a literatura em quadrinhos não foi valorizada, e segundo alguns pesquisadores, chegou a ser considerada uma subarte. Em sua opinião, o que originou esse preconceito, e como essa visão foi revertida?
Sonia – Vamos observar a própria palavra preconceito: é um pré-conceito. Isto é, as pessoas muitas vezes não conhecem o assunto, e têm uma visão preconcebida sobre isso. Esse preconceito, muitas vezes, é o medo, o medo do desconhecido, às vezes por parte dos pais e dos professores. Mas isso tem realmente uma origem, e vou contar a origem. Durante a guerra, muitas histórias em quadrinhos, no caso as americanas, foram utilizadas como incentivo para lutar. Heróis como Superman, Capitão América, eles foram à luta também. O próprio uniforme do Capitão América é a bandeira norte-americana. E houve também a contrapropaganda, pelos alemães, pelos japoneses. Porque não só as armas tinham efeito, mas os quadrinhos muitas vezes tinham efeito moral, isso principalmente no front. Terminada a guerra, um psiquiatra, Dr. Frederic Werthan, escreveu um livro, chamado "A sedução dos inocentes". Ele coloca o seguinte neste livro: cita alguns exemplos de maneira parcial, e disse o quanto esta literatura, o quanto esses heróis, o quanto esses quadrinhos podiam fazer mal às crianças, que foram usados na guerra para uma propaganda ideológica, imaginem o que seria dessas pobres criancinhas lendo quadrinhos... Isso foi dito numa linguagem científica, psiquiátrica... Anos mais tarde, havia uma revista chamada Seleções Reader's Digest. Essa revista, nas décadas de 50, 60, perambulou o mundo todo, foi traduzida em muitas línguas, e colocou em miúdos o que o Dr. Frederic Werthan quis dizer sobre a leitura de quadrinhos. Advertia os pais e professores: "Não deixem seus filhos lerem quadrinhos, porque eles fazem mal, eles são ideologicamente incorretos”, etc. Eu dei aula em vários países do mundo, e nesses vários países eu via as mesmas colocações que se fazia aqui no Brasil. Os professores não aceitando, os pais também não. Isso eu vi no Japão, em vários países da Europa. Isso foi um mal muito grande, então as pessoas, através de um meio de comunicação, uma revista, e por medo, e por não conhecerem a linguagem, passam a ter esse preconceito contra os quadrinhos. Essa situação vem a reverter mais tarde, quando um grupo de pesquisadores europeus resolve, isso na década de 70, colocar os quadrinhos numa outra posição. Foram feitas várias exposições sobre quadrinhos em museus de arte. Aqui no Brasil mesmo, em 1970, no Museu de Arte de São Paulo, foi feita uma exposição de quadrinhos. Isso foi bastante inovador na época, pioneiro. E isso foi feito na França, na Itália. Pouco a pouco, os pesquisadores passaram a conhecer melhor os quadrinhos, e tirar um pouco desse ranço, desse preconceito. Mas ainda hoje vemos em muitas escolas, e para muitos pais, esse medo de deixarem as crianças lerem quadrinhos. Uma das principais queixas, ou principais conversas, que eu ouço é: "criança que lê quadrinhos não vai ler livros no futuro, pois a linguagem é ‘mastigada’”. Como eu falei, quadrinhos é uma leitura que desenvolve a inteligência. Meu pai me dava quadrinhos para ler, e nem por isso deixei de ler livros. Minhas filhas foram criadas com quadrinhos, minhas netas também. Na escola, de maneira geral, os professores precisam ter um conhecimento melhor, tomar aquele instrumento de trabalho, que são os quadrinhos, de uma forma lúdica. Portanto, hoje em dia temos menos preconceito, hoje em dia nós temos mais desenhistas envolvidos nessa tarefa, inclusive, de auxiliar o professor. Nós temos mais editoras brasileiras empenhadas em ter livros paradidáticos usando os quadrinhos, com sugestões para que o professor os utilize em sala de aula. Usar quadrinhos, ler quadrinhos é o meio mais barato que nós podemos falar e ter numa sala de aula. O que nós precisamos? Lápis, papel, e borracha. E a leitura de um gibi não custa nada, praticamente nada. E a potencialidade que isso vai nos dar é imensa.

Salto – Em sua opinião, as escolas já conseguem identificar o potencial educativo dos quadrinhos?
Sonia - Sem dúvida. Eu acho que a escola brasileira entendeu, de uma forma bastante rápida, inclusive, que esse potencial existe. O que nós vemos pelo país são as escolas particulares que usam quadrinhos, talvez em maior escala. Mas a escola pública também deve utilizar. Por quê? Porque é um meio barato, tanto para desenhar – lápis, papel e borracha – quanto para usar os quadrinhos, pois os gibis custam barato também.

Salto – Que aprendizagens uma criança pode ter, por meio da linguagem dos quadrinhos?
Sonia – Essa aprendizagem pode ser feita até em casa, ou na escola. Eu mencionei, anteriormente, o seguinte: o fato de uma criança ter que transpor quadro a quadro, da linguagem descontínua para a contínua, é um aprendizado. É um aprendizado 'sem querer', que se faz automaticamente. Mas pode-se desenvolver isso de uma forma mais didática, na escola. A criança desenhando, como é feito esse movimento? Em casa, muitas vezes, os pais também podem utilizar. Por exemplo, o fato de contar uma história, o que aconteceu naquela história? A mesma coisa com o livro, fazer um resumo de uma história lida, de um conto, transformá-lo em quadrinhos. Num dia de chuva – isso em casa – lê-se um conto infantil, e depois se pede para as crianças desenharem isso em quadrinhos. Não é uma tarefa fácil, porque temos que pôr quadro a quadro, tem que ver como os personagens vão se apresentar, os diálogos, e os movimentos. Nós chamamos isso de tradução intersemiótica. Nós estamos passando de uma linguagem, no caso a literatura, para quadrinhos. De literatura para cinema, nós estamos usando a linguagem daquele meio de comunicação. E na escola idem. Então, uma redação pode se transformar numa história em quadrinhos também. Com muita técnica.

Salto – Quais devem ser as características de um trabalho com os quadrinhos em sala de aula?
Sonia – O professor pode desenvolver duas frentes de trabalho. Uma delas seria a própria leitura dos quadrinhos com os alunos. Então, a partir de uma história, da escolha do professor, ele discute os problemas que ela apresenta. Por exemplo: posição do pai, da mãe, aspectos de ecologia, de política. Mesmo nas histórias infantis, bem simples de argumento, o professor pode retirar muita coisa, os alunos, através da história, podem fazer um diagnóstico da sua própria cidade, do seu próprio país. E o professor pode, muitas vezes, conhecer melhor os alunos. Ao perceber que o aluno se identifica com algum personagem, ele pode ver o que se passa na alma dessa criança, de um adolescente também. E outra possibilidade é pedir aos alunos que façam a história em quadrinhos. Enquanto pesquisadora, sempre proclamei isso, que era bom para o ensino, etc. Eu quis fazer uma experiência: Solicitei à Secretaria Municipal de Educação, da cidade de São Paulo, que me desse duas escolas de periferia para trabalhar com os professores, durante seis meses, e ver em que medida nós poderíamos observar esse trabalho com quadrinhos. Isso foi atendido, eu fiquei seis meses. Já tinha falado com antecedência com as orientadoras pedagógicas e com as diretoras, se nós poderíamos fazer um trabalho com os professores. O que eu vi, em primeiro lugar, é que os professores não conheciam a linguagem dos quadrinhos. Eu precisei primeiro falar o que são as histórias em quadrinhos, como eram feitas, dar um panorama um pouco mais breve, porém denso, para que elas então tivessem uma informação. Eu pedi para trabalhar com professores que estivessem interessados em desenvolver esse projeto. Os professores de Português logo se apresentaram, de Arte, História e Geografia. Neste trabalho, as orientadoras me ligavam dizendo: "Professora, nós estamos numa escola municipal de periferia, não temos a quantidade de papel necessária para fazermos isso". Eu dizia: "Não tem problema. O que tem nessa comunidade, tem comércio?" "Tem. Tem um shopping aqui", elas responderam. "Então, eu vou até o shopping dizer que nós vamos fazer esse trabalho, e se eles poderiam fazer uma doação de papel com o carimbo do shopping". E o shopping nos deu resmas e resmas de papel para podermos usar durante os 4 meses. Esse é o primeiro passo: não há empecilho. A escola não tem meios? Ela pode arranjar. Até em folha de bananeira se desenha. As possibilidades são muitas. Depois, como testar isso. Eu vou falar uma experiência que foi feita com o professor de Geografia. Eu disse a ele: "Não dê a matéria, peça aos alunos para que pesquisem. Em que ponto do seu planejamento você está?" "Estou falando de catástrofe, de coisas que acontecem na natureza". Sugeri: "Proponha que os alunos pesquisem, e eles vão mostrar o conteúdo em quadrinhos. Os alunos criaram os personagens: um era o Tsunami, outro era um vulcão que se apaixonou pelo tsunami. Eles estavam tão cientes daquilo, porque aquilo foi motivo de pesquisa, saber caracterizar aquilo que eles estavam estudando, e depois o professor fez um teste. Os alunos estavam sabendo exatamente aquele conteúdo que o professor estava ensinando. Com os professores de Português foi muito positivo, por quê? Em primeiro lugar, aquele mesmo shopping que nos forneceu papel se entusiasmou com a ideia. Foi uma coisa utilizada na comunidade, na Zona Leste de São Paulo. A administração do shopping disse: "Em outubro, que tal fazermos uma exposição desses quadrinhos das crianças?". Maravilha. Alguns trabalhos melhores, de cada disciplina, foram selecionados. E as professoras de Português, por que ficaram contentes? Porque havia muitos erros, os alunos estavam escrevendo errado. E isso foi muito positivo, as professoras de Português não precisaram nem pedir "pelo amor de Deus" para que eles escrevessem certo. A exposição do seu desenho para centenas de pessoas que iam vê-los, isso foi algo muito gratificante. Além do mais, no balãozinho, onde ficam os diálogos, no momento em que se transforma a redação num quadrinho, ele precisa ser sintético, não pode ter um balão enorme, que senão o leitor não vai conseguir ler. Isso para as aulas de Português foi muito positivo também. A sintetização do pensamento. Como conseguir transformar uma linguagem em algo sintético, que dê o sentido? O desenhista Jal e eu corrigimos centenas de histórias em quadrinhos. Essas crianças, depois, foram expor, e o que foi mais bonito para nós, que eu realmente me emocionei, foi o fato de que nessas escolas os alunos especiais frequentavam, e os surdos-mudos, através da linguagem de Libras, também participaram dessa experiência. E a história deles é que foi mais emocionante, porque eles colocaram em onomatopeias tudo aquilo que eles sentiam dentro de si. A explosão do som através das onomatopeias. E assim finalizamos. O próprio Maurício de Souza foi prestigiar essas duas escolas, prestigiar o trabalho que nós fizemos. Concluindo, essas duas frentes de trabalho são muito importantes. É preciso ter um planejamento dentro da sala de aula, não são todos os pontos da disciplina que podem ser trabalhados sob a forma de quadrinhos. O importante talvez seja a interdisciplinaridade: Nessa semana vamos usar os quadrinhos, os professores de Geografia, de História, de Artes, de Português, até na área de informática, todos podem utilizar várias e várias formas de testar isso. E vamos ver que isso é lúdico, é ótimo, e é muito eficiente. Mas o professor precisa, em primeiro lugar, não ter medo, se familiarizar com a linguagem, e passar isso de uma forma bastante efusiva para os alunos.


Realizada em: 26/1/2011. Atuação: Pesquisadora com ênfase no uso de quadrinhos na sala de aula. Atualmente é professora titular do... Ir para o texto »
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